Os “Homens de Toga” e os “Homens de Deus”
- Virgilio Virgílio de Souza
- 12 de jun. de 2023
- 9 min de leitura

Num tempo de turbulência e investidas contra a democracia, os ministros do STF, responsáveis por resguardar a Constituição, precisam redobraer a atenção
Os Homens de Toga, em sua maioria bem formados, informados e inconformados com o “bunda-lelê” e a realidade paralela que se instalou no país, mais que nunca são obrigados a recorrer aos artigos, parágrafos e incisos da Constituição. A razão é uma só: precisam conter o ímpeto daqueles que, em sua maioria, são mal formados e informados, buscam utilizar os versículos bíblicos para pautar as relações existenciais, sociais e políticas. Isso tem dado um trabalho danado para nossos togados, que se veem obrigados e estudar diuturnamente e colocar em "xeque-mate" os que se consideram iluminados e "Homens de Deus”. Pessoas que ignoram a Carta Magna e acreditam que são absolutamente impunes.
A história é curiosa e via de mão dupla. Qualquer livro que pesquisarmos observaremos que muitos desses “Homens Bem”, com seus discursos fervorosos e seus livros religiosos embaixo do braço, se dizendo representantes do “Reino dos Céus”, sempre fizeram da terra um inferno. Intolerantes, sempre perseguiram aqueles que não seguiam seus ensinamentos e sem nenhuma piedade condenavam seus opositores ou desafetos. Volta e meia tudo volta, o ar fica pesado, o fanatismo prevalece, pessoas parecem entorpecidas como se vivessemos uma reencarnação do "Anjo Caído" também conhecido como "Cramulhão".
O que dizer da inquisição, quando fizeram churrasquinho de bruxas ou quando apoiaram a colonização e a escravidão e foram decisivos para se mandar os “negros desalmados” para os tumbeiros, para chibata, e os piores castigos. Esses representantes dos céus se tornaram admiradores e parceiros do também cristão Adolph Hitler. No presente, os "malvados modernos" perseguem gays, lésbicas, negros e religiões de matrizes africanas onde se queimam e destróem centros de umbanda. Se pudessem colocariam os umbandistas e candomblecistas em jaulas, para serem exibidos como hereges ou os enviariam para um Campo de Concentração.
Desde a celebre frase de um ministro do STF: “Perdeu Mané”, nossos magistrados se afastaram definitivamente do enfadonho “juridiquês”, e amparados pela Constituição decidiram seguir dito popular “É preciso cortar o mal pela raiz”. Por isso, frequentemente somos surpreendidos com a notícia do “enquadramento” de um desses defensores da família, dos bons costumes e da pátria e que tem como slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Esse é um slogan vil, descarado e nos remete há tempos sombrios, usado no auge do Terceiro Reich. Quem não se lembra do Füher aquele baixinho safado e escroto que empolgava multidões com o lema “A Alemanha acima de todos”. Hoje pessoas com a boca cheia de versículos cuidadosamente escolhidos para servir de defesa de suas causas, parecem querer dizer: “Eu acima de todos. Eu acima de tudo”. Fazem isso se utilizando de outra arma da qual “Adolphinho” recorria frequentemente que era a mentira. O ministro da Propaganda, era Joseph Goebbels, um queridinho de todos no Reich e, que se vivesse hoje, seria considerado o “Rei das Fake News”. Uma de suas principais máximas era: “uma mentira contada mil vezes se transforma em verdade”. Se vivesse hoje, seguramente “Xandão” já teria mandado colocar no xilindró.
Relator dos atos antidemocráticos Alexandre de Moraes que transformou em "Xandão" e baseado na Constituição, tem sido implacável com os delitos contra a democracia. Daniel Silveira de camisa amarela ao lado do amigo Rodrigo Amorim Roberto Jefferson, de armas nas mãos, e que não levam a Constituição à sério, foram punidos exemplarmente
Sorteado para ser o relator dos atos antidemocráticos o ministro Alexandre de Moraes tem que analisar e julgar casos como os de Daniel Silveira que, na foto, ao lado de seu amigo Rogério Amorim mostram a placa de Marielle que quebraram e de Roberto Jefferson que depois de ameaçar várias vezes no mundo virtual, um dia, meio doidão - só pode ter tomado cachaça ou cheirado porcaria -, colocou as ameaças em prática e, no mundo real, atirou e jogou granadas em policiais federais.
Observando nossos “Homens de Deus" e nossos “Homens de Toga”, perceberemos que nosso judiciário tem sido implacável e a lista é longa. Agem na base do “Vacilou Dançou”. No domingo, dia 28 de maio, foi a vez do ex-prefeito Marcelo Crivella entrar na alça de mira. Teve seus direitos políticos cassados, está inelegível por 8 anos e ainda terá que pagar uma multa de 433 mil. A grana não é problema, pois basta pegar o telefone e ligar p’ra o tio Edir – outro homem de bem-, e tudo estará resolvido.
Resmungam as ovelhas universais que se acham no Reino de Deus: “Isso é perseguição. Esse judiciário comunista é Maçon e adora idolatrar um bode. Eles não podem perseguir um homem de bem. O que fez nosso líder, um homem de Deus que segue as escrituras e defende que todos sejam felizes com a “Teologia da Prosperidade”?
Sem se importar com as escrituras e os discursos bíblicos e, amparados pela lei, nossos homens togados, à exceção daqueles que são "terrivelmente evangélicos", responderão:
- Na igreja nada, mas enquanto prefeito, em 2020, dentre outras “coisitas mas", simplesmente montou um esquema, que utilizava funcionários da prefeitura que ficavam nas portas dos hospitais impedindo reportagens sobre o sistema de saúde no Rio, o que não possibilitava que a população e os meios de comunicação soubessem das reais condições e da precária situação que o Município passava - o caso ficou conhecido como "Guardiões do Crivella".
Essas lideranças religiosas sabem manipular bem as interpretações bíblicas, mas o problema é que a justiça sabe que eles sabem. Os togados sabem que as pessoas mais simples, sem informação e os seguidores mais fanáticos estão sendo manipuladas e, por isso, acreditam ser um absurdo se pautar pela Constituição e não se guiar pela Bíblia. Acreditam que a verdade está no “Livro Sagrado” e não na “Carta Magna”. Que a Constituição é coisa dos homens e não traz a palavra de Deus. Enfim... Misturam alhos com bugalhos
“Um conto de loucos”:
Dalagnol que foi cassado, ao lado do inseparável amigo Sergio Moro, o ex- prefeito Marcelo Cri vela e o deputado Otoni de Paula parceiro do ex-presidente Bolsonaro estão na mira da justiça.
Se existe um homem que se diz de Deus e não se conforma com as decisões do judiciário, é o pastor Otoni de Paula (PMDB-RJ). Sempre que pode, alfineta, critica, difama nosso magistrado. Foi exatamente o que fez no último dia 18 de junho , quando se valeu da Tribuna da Câmara para ler um texto e, em seguida, fazer um duro discurso contra recentes decisões judiciais e contou a seguinte historinha:
- Um psiquiatra foi visitar um hospício e observou que lá, a rotina dos loucos era estranha, pois o diretor decidiu fazer uma academia e os internos ficaram muito fortes, musculosos e bombadões. O psiquiatra então chamou o diretor perguntou:
- Você não tem medo que esses loucos fortões, com toda essa massa muscular se unam contra você e provoquem uma rebelião?
O diretor levemente sorriu e respondeu com tranquilidade:
- Não tem problemas eles serem fortes, ou ficarem fortes, eles jamais se unirão, eles são loucos e os loucos não se unem, por mais fortes que eles sejam.
Terminado o texto Otoni disparou sua metralhadora giratória:
- Subo a essa Tribuna para dizer que como nessa história, eu me sinto num grande hospício aqui nessa Câmara e nesse Congresso Nacional. Essa casa é feita de homens e mulheres fortes, mas nunca nos uniremos contra a tirania, contra aqueles que rasgam a Constituição e ameaçam nossa liberdade, por causa, talvez de interesses que estão acima dos interesses da nação, ou por conta de termos nos tornados reféns do poder daqueles que podem prender ou mandar soltar. Ontem foi o Daniel Silveira, hoje o Daltan Dallangnol, amanhã, quem sabe, o senador Moro. Pergunto: “Qual de nós será o próximo?
"Nunca nos uniremos contra a tirania, contra aqueles que rasgam a Constituição e ameaçam nossa liberdade, por causa, talvez, de interesses que estão acima dos interesses da nação, ou por conta de termos nos tornados reféns do poder daqueles que podem prender ou mandar soltar".
Cabe ressaltar que Otoni só tem como alternativa a Igreja onde prega ou Tribuna da Câmara para falar. Ele foi um dos primeiros punidos e, desde de novembro de 2021, não pode usar as suas redes sociais - Facebook, Instagram, Twitter, Youtube. A punição foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes atendendo um pedido da PGR – Procuradoria Geral da República -, que após investigações entendeu que nobre parlamentar disseminava Fake News insuflando a população, em suas redes sociais, a praticar atos criminosos e violentos às vésperas do feriado de 7 de sembro de 2021, durante manifestação e greve dos caminhoneiros.
Em seu discurso, sai em defesa de outros “homens de bem”, e cita, Daniel Silveira, que, por seu bombadão, poderia estar perfeitamente inserido no perfil daquele hospício de loucos marombados. Se solidariza ainda com Danton Dallagnol que tinha a convicção de que iria armar e se dar bem, mas acabou se dando mal e perdeu o mandato no último dia 16 de maio, por tentar ludibriar a justiça.
Dallagnol que tira onda de “homem Virtuoso”, temente a Deus e seguidor da bíblia é uma figura "sui generis", contraditória que chega a ser engraçada. Ele se tornou conhecido na Lava Jato e se transformou em um dos expoentes de uma “Justiça Vesga” onde se criou a figura jurídica de que se é possível condenar sem se ter provas, tendo apenas convicções. Estrela midiática, passou a se considerar um “gato mestre”, um "mágico do powerpoint". Nas redes sociais e na tela da Globo fez uma apresentação de deixar com inveja qualquer ilusionista.
A decisão por sua cassação, foi tomada por unanimidade na Corte Eleitoral. Os ministros entenderem que ele só pediu exoneração do cargo de procurador-geral da República no Ministério Público Federal para concorrer nas eleições e, com isso, escapar de eventuais punições – eram 15 processos num total – e, pelo menos dois deles, estavam bem adiantados e poderiam impedir que se candidatasse e, com isso, perdesse a oportunidade de conseguir Fórum Privilegiado.
A punição deferida contra ele, tem como base a Lei da Ficha Limpa, que tornou o agora, ex-deputado inelegível pelos próximos oito anos. Deltan deixou em todos o pressentimento de que mais que um homem da justiça, queria ser um justiceiro. Se tivesse lido Frederick Nietzsche não teria feito essa besteira de condenar por convicções: Alertou Nietzsche:
“Não tente descobrir a verdade baseando-se unicamente em suas convicções, principalmente, aquelas que estão fundamentadas nos conceitos da "moral cristã". As convicções são inimigas da verdade, bem mais que a mentira”
Quando se menciona o nome de Daniel Silveira nos lembramos imediatamente de sua total falta de empatia e respeito à memória dos mortos. Se dizendo um representante da “direita raiz” fez questão de ir à Cinelândia e quebrar a placa colocada em homenagem a Marielle Franco e debochar da ex-vereadora que foi brutalmente assassinada. Cabe lembrar que Silveira não estava só. Tinha como companhia os amigos de fé, irmãos camaradas - o ex-governador Wilson Witzel que foi cassado e Rodrigo Amorim que é deputado estadual e começa a se enrolar -, pois seu carro foi visto nas manifestações antidemocráticas. Será difícil para qualquer pessoa sensata não sentir repúdio aos três, sorrindo, debochando e se deixando fotografar com a placa de Marielle nas mãos.
A verdade é que barra pesou para Daniel. Ele vacilou, perdeu os direitos políticos e foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão, por fazer duros ataques às instituições e aos ministros do STF e ter descumprido medidas cautelares que lhes foram impostas. Próximo do presidente Jair Messias, tinha a certeza da impunidade e deve ter respirado aliviado quando o “Messias” lhe concedeu “Graça Presidencial” que perdoava os crimes que havia cometido. No entanto, o benefício concedido foi reavaliado no início do mês de maio, e a Corte - esses malditos togados - entenderam que o perdão “messiânico” foi inconstitucional, pois tinha desvio de finalidade. Ele cumpria prisão preventiva e vai continuar preso, agora, na condição de condenado
Quando pensamos em “homens de bem”, não podemos sob nenhuma hipótese deixar de mencionar o ex-deputado Roberto Jefferson. Sempre crítico ao STF, de todo o judiciário, adepto da cultura da violência, vivia nas redes sociais exibindo armas e tirando onda, mas um dia, exatamente 23 de outubro de 2022, saiu do mundo virtual e parecendo estado em delírio, meio endemoniado entrou no mundo real. Fez o país ficar boquiaberto naquela tarde de domingo, e se tornou o foco de todas as atenções. Não é que o homem jogou três granadas e deu mais de 50 tiros de fuzil em agentes da Polícia Federal que foram em sua casa cumprir mandado de prisão. Dois policiais foram feridos por estilhaços da granada e levados ao pronto-socorro. Sem fazer qualquer cerimônia, nosso “Pistoleiro de Cristo” diz que não atirou para matar.

Inspirados por lideranças que se acham impunes, milhares de pessoas que se pautam pela Bíblia e não pela Constituição, invadiram Brasilia em 8 de janeiro, promovendo um grande quebra-quebra. A grande maioria foi presa, sendo julgada e muitos condenados
Toda essa discussão de Cristãos e mais exatamente de evangélicos sempre envolvidos em coisas feias e esquisitas nos faz lembrar o ex-governador Leonel Brizola que em 1998, preocupado com a ascensão política de um grupo de evangélicos, dentre eles, Antony Garotinho, Rosinha Matheus, pastor Everaldo e Eduardo Cunha - hoje, todos eles com passagem pela polícia -. Afirmou:
“Se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço o país retrocederá vergonhosamente e matarão em nome de Deus.