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Monumento a Zé Pelintra é restaurado na Lapa


Além de preservar as imagens que já existiam, o monumento ganhou um estátua de 1m30 e passou por um ´processo de total restauração

Foi linda a festa, tinha de tudo um pouco: samba, maculelê, capoeira, baianas, mestre salas e potra bandeira, pontos de umbanda e muita gente vestida de vermelho e branco, trazendo um sorriso no rosto e muita fé no coração para homenagear ao mais malandro de todos os malandros. Assim pode se definir celebração pela restauração ao monumento a Zé Pelintra ocorrido na noite desta quinta-feira (07), nos Arcos da Lapa. O monumento que existe há pelo menos 20 anos, sempre abandonado e degradado, sobrevivia em razão da dedicação de alguns moradores e devotos.

Com a reforma, veio um novo visual: construiu-se um altar onde foi colocada uma estátua de “Seu” Zé de 1m80. Na estrutura que já existia, foram colocados ladrilhos brancos, vermelhos e pretos, uma placa de bateria solar e três spots de luz para iluminar todo monumento que passou por grande limpeza e pintura. Um verdadeiro brinde a “Seu” Zé e a todos os seus admiradores.

A obra aconteceu graças ao esforço do design de interior Ednaldo Vieira de Souza, conhecido como Baroni, morador da Ilha do Governador e estava morando há três anos em São Paulo e do arquiteto e urbanista paulista Marcelo Criscuolo. Baroni conta que tudo foi meio mágico e como se estivesse cumprindo uma missão dada por “Seu” Zé:

- Nunca visitara esse pequeno santuário em homenagem a “Seu” Zé. Morava em São Paulo há três anos e estava no Rio no 23 de abril de 2020, quando nasceu Heitor, meu sobrinho neto. Era dia de São Jorge e em agradecimento ao nascimento do menino decidimos distribuir uma feijoada para as pessoas carentes nos Arcos. Foi nesse momento que observei o santuário. Fiquei encantado, energizado e senti a necessidade de fazer algo. Pedi inspiração e proteção e me pus a pensar no que poderia fazer para melhorar o monumento e seu entorno. “Seu" Zé me inspirou, me deu forças e deu tudo certo - comenta.


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Marcelo Criscuolo e Baroni os responsáveis pela requalificação do monumento a "Seu" Zé


Baroni voltou ao Rio em junho do mesmo ano com Criscuolo, procuraram a prefeitura, e souberam do “Adote Rio” – Programa da prefeitura que permite a adoção de um espaço público por empresas, associações de moradores e cidadãos (equipamentos urbanos, praças e parques, largos e jardins, árvores, canteiros e ilhas, monumentos e chafarizes. Se inscreveram para cuidar do local onde existia o monumento a “Seu” Zé e, em março de 2022, souberam que conseguiram a adoção.

Marcelo que é um experiente arquiteto e sócio de Baroni na empresa Baroni Obras e Restauração conta que ficou extremamente feliz quando soube haverem conseguido a adoção:

- Quando visitei o monumento com o Baroni em junho de 2020 e ele me falou do que pretendia, fiquei muito animado e decidimos apoiar uma intervenção de reformas no local. Dois anos depois, quando soubemos que conseguimos a adoção, decidimos investir na ideia da requalificação Urbana e Ambiental desse espaço. Juntamos toda nossa energia e decidimos: agora é mãos à obra.

Os últimos quatro meses foi de muito trabalho, idas e vindas a São Paulo e muitas despesas como comenta Criscuolo: “com a recuperação do monumento gastamos entre 15 a 20 mil reais, tenho tudo anotado, mas não dá pra saber exatamente, em razão das viagens ao Rio, as despesas com hotel e alimentação, mas me sinto extremamente feliz e gratificado, pois, vejo que o fruto do trabalho foi compensador. Não entendo como gasto e sim como investimento - Comenta. Embora demonstrando cansaço dos sucessivos dias de trabalho, na noite da inauguração, Baroni não escondia seu entusiasmo:

- Foi mesmo muito gratificante. Foi bom as pessoas em situação de rua se prontificando a colaborar. Eles foram muito solidários, foram responsáveis, por exemplo, pela confecção de todas as bandeirinhas. Foi exaustivo, mas no final valeu todo o esforço – Completou.

Joaquim Silva uma rua esquecida pelo poder público

A Rua Joaquim Silva guarda suas peculiaridades e encantos. Ponto de encontro de ricos e pobres, pessoas de todas as cores e origens, independente de orientação sexual. Um território livre, democrático e naturalmente propicio para todas as manifestações religiosas e culturais pulsarem em suas mais diversas formas. Essa pluralidade e esse universo de possibilidades, atrai pessoas de todas as partes da cidade e turistas de todas as partes do Brasil e do mundo.

A atração por uma rua tão mística não é um mero acaso: ela se inicia exatamente embaixo dos Arcos – ponto de maior visitação noturna do Rio e termina na bela e ampla Praça Paris. Além disso, é composta por um belo casario e no meio disso tudo, se pode vislumbrar o colorido da Escadaria do artista Jorge Selaron - falecido em 2013 -, com seus ladrilhos vindos de todas as partes do mundo e durante o dia, terceiro ponto de maior visitação da cidade.

Além do belo casario, a rua que se inicia no Monumento a "Seu" Zé e termina na Rua Augusto Severo, Praça Paris, pode se curtir a beleza da escadaria do Selaron com azulejos de todas as partes do mundo e sempre muito frequentada


Essa rua privilegiada e estratégica, localizada no coração da cidade e onde morou Carmem Miranda e Lima Barreto e frequentada por figuras como Manoel Bandeira, Machado de Assis, Mário Lago, Madame Satã, e mais recentemente visitada pelo ator Morgan Freeman, pelo cineasta Spike Lee e pelo happer 50 Cent, hoje sofre de total abandono. Nada parece sensibilizar e fazer a prefeitura olhar com carinho ou zelar por esse espaço que além de místico, parece sagrado. Os moradores, reclamam, por exemplo, a rua não dispõe sequer de uma caçamba de lixo ou lixeiras, que as calçadas estão esburacadas, as árvores mal conservadas. Tudo isso, um grande insulto para seus muitos frequentadores. A imagem que os turistas levam desse abandono deve ser a pior possível.

Pessoas dormindo embaixo dos Arcos, e sem lixeiras ou caçambas o lixo se acumula na altura da Escadaria do Selaron e no Beco do Rato próximo à Praça Paris. Deve ser muito ruim a imagem que os turistas levam do Rio.


A situação só não é pior graças ao trabalho da Comlurb – Companhia Municipal de Lixo Urbano. Porém, com tantos visitantes e seus muitos moradores o trabalho da Comlurb acaba se tornando ineficaz. É uma área onde existe um grande número moradores em situação de rua e de muita movimentação, principalmente à noite nos finais de semana, quando se consome muita cerveja. Por essas razões, o fedor de urina e de fezes na maior parte do tempo é permanente e insuportável. Nada que um pouco de boa vontade política e alguns banheiros químico não resolveriam .

O único braço do poder público que chega à Joaquim Silva, aos Arcos e arredores é o policiamento do Lapa Presente e do Segurança Presente. Dependendo do humor dos policiais, o serviço funciona de forma eficaz de 18h as 4 da manhã e melhorou em muito a vida dos moradores fazendo várias apreensões de facas e revólveres e proporcionando uma sensação de segurança.

Os órgãos da Prefeitura que deveriam assumir o ordenamento são extremamente ineficientes. A SEOP - Secretaria de Ordem Pública –, a Guarda Municipal e a CLF – Coordenadoria de Fiscalização – órgão vinculado Á SEOP que poderiam garantir tranquilidade e segurança aos moradores e aos muitos turistas agem com total omissão.

O único trecho que a SEOP atua é em um quarteirão entre os Arcos e a Rua Gomes Freire, onde a Guarda Municipal auxiliada por uma viatura da Polícia Militar atendendo a pedidos dos comerciantes faz um forte esquema de repressão aos ambulantes agindo quase como seguranças particulares.

O excessivo número de mesas e cadeiras nas calçadas e as casas de ‘shows’, bares e restaurantes que invadem a madrugada com som extremamente alto e impede os moradores de dormir ou descansar parece ser um problema que não diz respeito ao prefeito Eduardo Paes, a seus subordinados e muito menos ao subprefeito do Centro Leonardo Pavão ou ao secretário de Ordem Pública Brenno Carnevali

Comerciantes se calam

Apesar da omissão da prefeitura da sujeira e do abandono a rua prospera. Graças a corajosos investidores, lentamente foi surgindo uma gastronomia para todos os gostos – comida carioca, nordestina, japonesa, vegana, indiana, e muitos botecos atrativos e atraentes com suas batidas e caipirinhas. Se há uma coisa que a prefeitura consegue causar nesses comerciantes e investidores é o medo. Todos eles fazem críticas à atuação da prefeitura, mas preferem se omitir ou sequer fazer qualquer declaração temendo represarias dos órgãos de fiscalização: Um desses comerciantes com comércio na rua há 20 anos não esconde sua decepção com a atual administração:

- Em todo esse tempo que estou aqui nunca vi essa rua tão abandonada, e com as calçadas todas esburacadas. Todo mundo sabe que a Rua Joaquim Silva é totalmente ignorada pela prefeitura. Eles nos tratam como se fossemos uma rua de segunda categoria e não respeitam os moradores e muito menos os comerciantes. O tal do Leonardo Pavão apareceu por aqui, falamos da necessidade de uma rua mais limpa, mais organizada e que colocasse pelo menos lixeiras, ele ouviu tudo, prometeu que resolveria o assunto e nunca mais apareceu” – declarou.

Elizabeth do Carmo que é moradora e trabalha como ambulante é outra que perdeu a paciência e a esperança em relação à prefeitura: “a prefeitura não faz nada e a guarda só vem aqui para coibir ambulantes. Esse subprefeito não passa de um conversinha fiada. O Eduardo Paes pensa que está enganando quem? Ele só pensa em dar mole p'ra os donos de bares e restaurantes e reprime os ambulantes. O voto dos comerciantes não é mais importante que o dos ambulantes e nosso voto ele perdeu" – afirmou. Outro comerciante que se estabeleceu há um ano rua lamenta o abandono:

- Ainda estou me adaptando, mas a prefeitura precisa fazer muito mais. Não ter lixeira é um absurdo. Às sexta e sábados em razão da grande quantidade de pessoas que circulam por aqui o fedor de urina é insuportável. Dada a importância que a rua representa para a cidade eles poderiam pelo menos colocar banheiro químico. As rodas de samba pela madrugada na rua é outro problema sério, pois obriga os bares a aumentar o som o que é prejudicial aos vizinhos. A prefeitura teria que sair dessa omissão e agir de forma mais séria - finalizou.


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Um grupo de sambistas da Escola de Samba Estácio de Sá com direito à participação de um gato fez questão de ir à Lapa homenagear "Seu" Zé.


Mas apesar dos desmandos e descasos a festa em homenagem a "Seu" Zé foi linda. O babalorixá Ivani dos Santos e o padre Flávio Antero fizeram belos discursos contra a intolerância, o pesquisador Zeca Ligiéro contou algumas histórias de "Seu" Zé e pessoas de todas as partes da cidade vieram prestigiar o evento. Naturalmente muitos subordinados do prefeito Eduardo Paes se fizeram presentes, dentre eles, o subprefeito Leonardo Pavão. Todos sorridentes com discursaos prontos e frases feitas, falaram das melhorias que estão por vir e das "belezas da Lapa"


O babalorixá Ivani dos Santos e o padre Flávio Antero falaram contra a intolerância, o casal de mestre salas e Porta Bandeira da Estácio se apresentou e centenas de pessoas de várias partes da cidade se vestiram de vermelho e branco para prestigiar o mais malandro de todos os malandros




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