Carnaval: a opinião de médicos conceituados que são foliões
- Virgilio Virgílio de Souza
- 31 de jan. de 2022
- 9 min de leitura
Atualizado: 1 de fev. de 2022
Carnaval: a opinião de médicos conceituados que são foliões.
Liberar ou não a festa na cidade num tempo de pandemia...
Eis a questão...
Os médicos Simone Maria e Jorge Luiz do Amaral, além do sanitarista Christovam Barcellos - falam sobre o assunto

Vai ter carnaval?
A pergunta permanece no ar e todo mundo se acha no direito de emitir suas opiniões: Sobram perguntas e respostas incertas. "A festa vai rolar apenas na Sapucaí e o carnaval de rua esta proibido"?; " o carnaval será em março, em abril ou em julho"? Os blocos farão festas fechadas?
Em síntese: O carnaval de 2022, se transformou num verdadeiro “Samba de políticos doidos”, que, por um lado, são pressionados pela economia – rede de hotéis, companhia de cervejas e aviações, restaurantes e, por outro, precisam estar atentos às recomendações da ciência e da medicina, onde vários profissionais recomendam cautela. Sabem nossos nobres políticos que se a coisa se complicar, eles serão responsabilizado. É a velha história: Quem tem - que tomar - decisões tem medo.
Apesar das recomendações da ciência e mesmo sem entender nada sobre o assunto, todo mundo se acha no direito de dar um pitaco: carnavalescos, representantes da Liga das Escolas de Samba e dos blocos, ambulantes, o bicheiro, o bispo neoptencostal, as costureiras, o dono do botequim da esquina...
Nosso Exmo. Sr. presidente da República Jair Messias Bolsonaro, considerado pela ciência como um relés negacionista, desde o início decidiu tratar o assunto como uma questão politica e em nome da economia insiste em ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Entra em confronto com todos que discordam que se opõe às suas ideias. Já o prefeito Eduardo Paes, não querendo se confrontar com ninguém, poderia até ser chamado de "Eduardinho Paes e Amor", pois a cada momento muda de opinião: se em muitas ocasiões declarou que seguiria o parecer do Comitê Cientifico", no último dia 27, numa reunião com o prefeito de São Paulo, para a surpresa de todos e ignorando o aumento de casos da variante ômicron, nosso alcaide sem demonstrar qualquer constrangimento afirmou: “esse ano vai haver carnaval de qualquer jeito ”.
Nosso prefeito até parece a variante Ômicron, que vai sofrendo mutações, vai mudando, mudando... Calma prefeito, os números aumentam de forma assustadora e a única certeza que temos é que não temos certeza de coisa nenhuma. Quem observa o prefeito e recomenda cautela é o vereador Tarcísio Motta, que embora professor de história, se tornou um ecspert por ser o presidente da Comissão de Carnaval da Câmara dos Vereadores. Nos últimos cinco anos a Comissão tem discutido com os mais diversos segmentos da sociedade - blocos, escolas de sambas seguranças, ambulantes, cientistas, médicos corpo de bombeiros -, os (des)caminhos do carnaval do Rio de Janeiro. Com tudo isso, Tarcísio adquiriu muita bagagem e tem sido um críticos às precipitações do prefeito.
Em meio a tantas opiniões , onde todo mundo fala o quer, mesmo sem qualquer embasamento, convidamos três profissionais conceituados – os médicos Simone Santos, e Jorge Luiz do Amaral além do - Sanitarista da Fiocruz Christovam Barcellos -, que gostam da festa, curtem o carnaval, mas estão num momento extremamente delicado, pois ao mesmo tempo olham para a fantasia, e desejam curtir a festa, rever amigos, sair animadamente e descompromissadamente num bloco qualquer, olham para o jaleco, ponderam e seguramente se perguntam: seria justo ter carnaval.;
"É preciso seguir as
determinações do Comitê Cientifico"
Jorge Luiz do Amaral, (Bigu)*

“Pelo que observo, a liberação do carnaval tanto nas ruas quanto na Marques de Sapucaí se transformou numa discussão que em grande parte seria desnecessária. Acima de tudo, é preciso estarmos atentos às orientações e determinações do Comitê Cientifico, tanto do Rio quanto de São Paulo, que são compostos por profissionais competentes, pessoas experientes e que observam atentas à circulação das variantes do vírus.
Achei correto que fosse cancelado o carnaval de rua do Rio. Como se percebeu, o Rio serve de espelho, de exemplo e bastou cancelarmos nosso carnaval para muitas outras cidades seguirem o mesmo caminho. Quanto ` Sapucaí, acho prematuro “liberar geral” como querem algumas pessoas na Liga das Escolas de Samba, carnavalescos e a Industria dos Camarotes. Assim como acredito se tratar de um equívoco “proibir geral”, como sugerem muitas pessoas que não querem a festa sob nenhuma hipótese.
Essa estrutura de “Passarela do Samba”, que muitos consideram uma festa elitizada, só existe no Rio de Janeiro e São Paulo. É um carnaval fechado, organizado pela prefeitura pela liga das escolas e com a concordância ou não das escolas. Trata-se de um vento institucional que permite com boa vontade, seriedade e rigidez se ter um controle das pessoas que participam.
Quanto ao carnaval de rua, é complicado uma vez que o trajeto e o número de participantes é algo totalmente aleatório. Como se ter controle num evento que você não tem ideia de quantas pessoas vão participar? Na Marques de Sapucaí é outro contexto. A Avenida é toda dividia – setores de luxo e setores populares -, os ingressos são vendidos antecipadamente é possível estabelecer um rígido controle na circulação de pessoas. É uma festa que dura três dias se considerarmos os dois dias de desfile e o desfile das campeãs. Não diria que seja impossível ter um controle sobre essas pessoas. Exigindo que todos estejam imunizados.
Apesar de toda polêmica, de todo descaso do governo federal que, embora sem entender absolutamente nada sobre o assunto não leva esse momento de pandemia a sério. É um senhor que vive fazendo piadinhas e espalhando negacionismo, percebo, entretanto, que grande parcela da sociedade, os governadores e prefeitos estão se portando de forma correta, respeitando a ciência e os protocolos. Acho que o importante nesse momento é mantermos os cuidados necessários e recomendados e continuarmos usando álcool e mascaras e evitando, se possível, toda e qualquer aglomeração”. Sobre o carnaval devemos escutar atentamente o comitê cientifico.
*Bigu é admirador do carnaval nas ruas e que curte muitos blocos na cidade:
- Penso que os blocos tem uma importância muito grande para a cultura da cidade e para essa espontaneidade carioca. Curto muito o Timoneiros da Viola, Cacique de Ramos e Bafo da Onça. Entendo a importância de outros blocos como o Simpatia, Barbas , Meu Bem Eu Volto Já e Carmelitas e olho com carinho até mesmo pra esses blocos que não representam minha praia como é o caso do Bloco da Anitta, da Preta e Monobloco. Ultimamente tenho curtido muito as atividades dos Arteiros da Glória que promove mensalmente uma roda de samba na Praça Paris comandada por Paulão 7 Cordas.
Bigú é é médico da Secretaria Estadual de Saúde – RJ e do Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro – IASERJ.
Graduou-se em Medicina pela UFRJ (1976), é mestre em Saúde Coletiva pela Universidade UERJ (2002) e doutor em Saúde Coletiva pela mesma Universidade (2007). Íntegra o corpo docente da Faculdade de Medicina Souza Marques desde 1978 e foi docente em tempo integral do curso de Medicina da Universidade Gama Filho até o ano de 2014. É pesquisador do projeto Crise Global e atua no Instituto de Medicina Social - UERJ desde 2014.
"A disseminação da variante Ômicron em outras partes do mundo já demonstrou que o protocolo de cobrança de passaporte vacinal parece não ser suficiente para conter sua transmissão. Logo, não nos parece adequado simplesmente diferenciar eventos carnavalescos em espaços fechados daqueles realizados em áreas abertas. Infelizmente, isso significa que pode não ser seguro ter carnaval na Sapucaí, muito menos cortejos de blocos em espaços fechados". (...) Cancelar o Carnaval de Rua e os desfiles da Intendente de Magalhães, e manter os desfiles na Sapucaí e os bailes em clubes e boates, provoca uma elitização da festa popular e contraria o espírito democrático do carnaval em nossa cidade".
Tarcisio Motta
Presidente da Comissão de Carnaval da Câmara dos Vereadores, em 5 de janeiro, após o prefeito Eduardo Paes anunciar o cancelamento do carnaval dos blocos e manter o carnaval das escolas na Marques de Sapucaí

"A vacina é uma decisão individual,
que interfere sobre o coletivo".
Dr. Simone Maria*

Acho uma lástima que mais uma vez não se realize o Carnaval. Participo de cortejos de blocos de rua e vou prestigiar nossas escolas de samba. Gosto da festa, da animação, do reencontro com as pessoas, mas a realização do evento, tanto na Sapucaí quanto nas ruas, seria de total irresponsabilidade. Não podemos perder de vistas que estamos lidando com uma variante de capacidade potencialmente 70 vezes maior de infecção do que as anteriores devido sua intensa multiplicação no sistema respiratório. Numa proporção dessas, nenhum Serviço de Saúde seja Municipal, Estadual ou Federal, dará conta de absorver toda a demanda gerada para atendimentos ambulatoriais e internações.
É natural e compreensível que haja essa aflição, essa necessidade de se divertir, de sair, de estar em lugares coletivos. As pessoas ficaram por muito tempo expostas tendo que pegar trem, metrô, ônibus, obrigadas a trabalhar por falta de políticas públicas e agora se veem no direito de não serem privadas de se divertir, de brincar. Mas temos que estar atentos, pois seis meses após a vacinação a imunidade vai diminuindo e as pessoas tendem a ficar fragilizadas e, em razão disso, é necessário a dose de reforço e a manutenção dos cuidados preventivos já conhecidos: uso de máscara adequada (N95/PFF2) e distanciamento social.
Desde o início da pandemia de Covid19 a postura negacionista do governo federal tem sido absurda, sem base científica alguma contrariando todos pareceres técnicos, de total desprezo pela vida. Não houve nenhuma campanha orientando sobre cuidados preventivos nem estimulando e mostrando a importância da vacinação. Felizmente, muitos governadores e prefeitos se mostraram mais responsáveis, sensatos e equilibrados o que permitiu se salvar muitas vidas, principalmente com a introdução das vacinas.
O problema é que mesmo depois de todo esse tempo, de tanto sofrimento, tanta dor e tantas mortes, ainda temos sérias dificuldades para reconhecermos exatamente a gravidade do que está acontecendo. A sensação é a de que não aprendemos nada em relação a tudo que já temos de conhecimento técnico e vivenciado no cotidiano de muitas famílias que foram destroçadas pela morte de familiares.
No início da pandemia houve muita resistência para se fazer o lockdown e agora a história se repete. Todas essas festas, estádios lotados, shows, rodas de samba, nada disso deveria estar acontecendo, assim como já deveríamos ter tido outro período de lockdown. Se tivéssemos feito a coisa certa no início, cumprido os protocolos estaríamos em outro patamar.
As pessoas precisam entender que tomar vacina não é uma decisão individual, mas uma atitude que interfere sobre o coletivo, que afeta a vida de outras pessoas, inclusive, e, principalmente, dos familiares vulneráveis. A Covid19 é a segunda causa de óbito entre 5 e 11 anos de idade. As UTIs estão novamente sendo lotadas, já há falta de leitos e, pior do que na onda da cepa ancestral e da delta, a ômicron está provocando um alto número de internações pediátricas, inclusive já com óbitos também em menores de 5 anos de idade. É urgente a vacinação das crianças, muitas já em retorno escolar sem nenhuma proteção vacinal, é o único meio seguro de diminuir a gravidade da Covid19.
*Médica especializada em Saúde da Família/GHC-RS
Pós-doutorado em Epidemiologia e Promoção da Saúde/FIOCRUZ-RJ
Professora de Epidemiologia na Universidade Estácio de Sá-RJ
Além do Céu na Terra, curte outros vários blocos além dodesfiles das escolas de samba na Sapucaí

“A minha opinião é que todos os eventos de Carnaval do Rio deveriam ser suspensos. “Espero que o prefeito não tenha tomado este tipo de decisão baseado em questões econômicas. Porque o Carnaval de rua, para a prefeitura, não tem muito impacto econômico, tem custos. Já a Sapucaí é uma forma direta ou mesmo indireta da prefeitura ter algum ganho”,
Roberto Medronho
Infectologista / professor da UFRJ, integra o Comitê Científico de Niterói, e um dos fundadores Bloco Simpatia é Quase Amor
Vai ter carnaval?
Podemos ter carnaval?
Cristovam Barcellos*

Estamos vivendo um momento de grande incerteza em relação à pandemia. Há uma nova mutação do vírus de Covid-19 em circulação. Tudo indica que essa mutação ômicron causa menos casos graves da doença, mas se transmite com grande facilidade. A maior parte da população adulta está vacinada, o que é uma vitória do SUS e de todos nós cidadãos. Mas temos sempre que lembrar que ainda existe um terço da população brasileira que não recebeu as doses completas de vacinas. Outros países, na Europa e na América do Sul, estão tendo surtos de Covid-19, com muitos casos, que por sua vez geram internações e várias mortes.
Diante desse quadro, cabe a todos se perguntarem: Vai ter carnaval? Podemos ter carnaval? Eu disse todos porque isso não essa não é somente uma decisão da prefeitura do Rio de Janeiro, mas de várias outras instâncias de governo - estadual e federal (esse último sempre omisso e negacionista) - e de cada cidadão. Isso porque não adianta o Rio de Janeiro limitar o carnaval, se alguma prefeitura vizinha fizer um grande evento, o que vai atrair vários cariocas, mas também mineiros, paulistas, etc. E muitas dessas festas, blocos e eventos podem ser também promovidos de maneira clandestina por empresas, bares e casas de show.
Como disse o próprio prefeito Eduardo Paes, “não existe meio carnaval”. O carnaval que os cariocas conhecem e curtem é pleno, com aglomerações, proximidade entre pessoas, troca de beijos e de bebidas. Cabe à prefeitura avaliar o quadro atual da pandemia e tomar as decisões mais sensatas, que protejam a população da cidade e seus visitantes. Na minha opinião, isso implica no cancelamento ou adiamento da nossa maior festa, o carnaval. E isso só será efetivo se cada pessoa adotar os cuidados necessários para não se contaminar e não expor a vida dos de outros a risco, evitando os grandes eventos, usando máscaras, principalmente em locais fechados, se vacinando e incentivando a vacinação entre seus amigos e familiares.
*Christovam Barcellos
- Sanitarista da Fiocruz
Admirador do Céu na Terra e do Cordão do Boitatá que curte sempre que pode Cristovam gosta do carnaval em sua totalidade:
- Gosto dos blocos, mas de não ter compromisso com um ou outro bloco. Curo o Céu na Terra e o Cordão do boitatá, mas o que gosto mesmo é de sair sem qualquer compromisso pelas ruas do centro e ver pessoas, cores e blocos. Essa relação de sair ver pessoas e ter reencontros me faz muito bem.
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