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Blocos e bandas podem se livrar das amarras e burocracia do poder público

Próximas Audiências sobre o Marco Regulatório: 25 de setembro – Cidade do Samba / 30 de outubro – Museus do Catete Carnaval de rua: evento ou manifestação cultural? A Frente Parlamentar em Defesa do Samba e do Carnaval, da ALERJ - Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro -, que tem como um dos principais objetivos criar um Marco Regulatório dos Blocos e Bandas do Carnaval de Rua, tem também, um grande desafio pela frente: sensibilizar os órgãos responsáveis pela organização do carnaval de rua – Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e órgãos da prefeitura e do governo do Estado -, para que percebam que o carnaval de rua organizado pelos blocos tradicionais não é um evento, no sentido mais amplo da palavra, e sim, uma manifestação cultural.

A deputada Zaidan (PT) quer melhorias na relação dos blocos com o poder público já no carnaval de 2024


Pelo menos, essa foi uma das principais queixas dos representantes de blocos, bandas e outras agremiações carnavalescas da cidade durante a primeira audiência realizada noite da última segunda-feira, (28/09), no auditório da ALERJ. Outras duas audiências já estão programadas: a primeira, dia 25 de setembro na Cidade do Samba e, a segunda, dia 30 de outubro no Museu do Catete Os responsáveis pelos blocos e bandas não querem que os desfiles dos blocos que representam sejam comparados com o Réveillon, na Praia e Copacabana, com estimativa e 3 milhões de pessoas ou shows com grande apelo de publicidade e marketing como o do DJ AloK, na Praia de Copacabana, que tinha a previsão de 2 milhões de pessoas ou mesmo a Marcha para Jesus, promovida pela corrente neopentecostal e capitaneada por empresários da fé e políticos que conseguem reunir um milhão de pessoas no Aterro do Flamengo. Burocracia e dificuldade para colocar o bloco na rua Rita Fernandes, integrante do Bloco “Imprensa que Eu Gamo” composto basicamente por jornalistas e que desfila em Laranjeiras, e também presidente Sebastiana, da Liga que reúne alguns dos principais blocos do Centro e Zona Sul, dentre eles, Simpatia é Quase Amor, Carmelitas, Gigantes da Lira e Barbas, foi contundente em suas palavras e afirmou que o carnaval de rua e promovido pelos blocos, nos bairros, deve ser tratado como uma manifestação cultural popular e sob nenhuma hipótese como um evento como quer entender os órgãos públicos: - Não faz sentido e não há nenhum cabimento em tratar o carnaval der rua promovido pelos blocos como um evento e querer que nós cumpramos todas as exigências e entraves burocráticos de um grande evento. Chega ser inconcebível exigir que um bloco apresente rota de fuga e esbarre em questões burocráticas que são verdadeiros absurdos. Em algumas ocasiões a liberação da documentação só é aconteçe momentos antes ou um dia antes do bloco desfilar. Precisamos encontrar um equilíbrio entre as normativas de segurança e a liberdade de expressão cultural. Todo esse conjunto de normas e restrições acabam por limitar a natureza democrática e livre dos blocos que é sua principal essência – comentou. A CarnaFolia é uma liga de bloco da Zona Norte omposta por 16 agremiações, dentre elas, Banda da Praça Saens Pena; Bloco Nem Muda Nem sai de Cima; Bloco Eu choro Curto ,mas Rio Comprido e o Bloco Vai Tomar no Grajaú. A presidente da Liga Maria Rossi participou do encontro e reclamou dos métodos, critérios e de toda burocracia que envolve o carnaval: - Quem não coloca um bloco na rua não sabe de todas as dificuldades que enfrentamos. É uma verdadeira maratona, muito sacrifício e muita mão de obra. Parece que esses órgãos estão nos fazendo um grande favor, e que a intenção é dificultar o máximo quem busca fazer a coisa certa. Tenha certeza de uma coisa: é muito aborrecimento. Precisamos avançar nesse tema”, ponderou.


Marketing pessoal e produção cultural Outra queixa lembrada exaustivamente pelos organizadores das pequenas agremiações é em relação à confusão que a prefeitura do Rio – leia-se RIOTUR – estabeleceu nos últimos anos, demonstrando não saber diferenciar o que são desfiles de pequenas agremiações com propósitos culturais e os denominados mega blocos – dentre eles Bloco da Poderosa (Anita) e Bloco da Preta Gil, dentre outros -, que visam apenas marketing pessoal e, patrocinados por grandes empresas, levam para o Centro da cidade verdadeiros trios elétricos. Blocos, com toda uma estrutura de captação de recursos e que além de faturar alto com os desfiles aproveitam a ocasião para alavancar e fazer publicidade de suas carreiras pessoais e amigos que querem se projetar no mercado. Vendem os desfiles para várias cidades - Rio, São Paulo, Salvador -, como se estivessem vendendo os shows que realizam durante todo ano. A descaracterização do carnaval é outra questão na qual o RIOTUR não se importa. No carnaval carioca vem aumentando a cada ano, as festas fechadas em espaços públicos com grandes nomes da MPB, num verdadeiro processo de elitização. A falta de critério não para por ai: existem blocos que tocam músicas dos Beatles, e, no carnaval de 2022, foi autorizado inclusive a apresentação de um show de música caipira em pleno Centro da cidade. Ao que parece, a função da RIOTUR é divulgar o carnaval, atrair o maior número de pessoas que puder para a cidade e vender a cidade e seus espaços a qualquer custo sem se preocupar se o carnaval carioca está ou não sendo descaracterizado.

O Rio é uma das poucas cidades em que a Secretaria de Cultura não participa na organização do carnaval. O prefeito Eduardo Paes entende que o carnaval é assunto da Secretaria de Turismo para atrair pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo e da Secretaria de Ordem Pública, com a Guarda Municipal multando mijões e quem joga guimba de cigarro no chão e, quando preciso, para manter a ordem, agindo com truculência com muita porrada e bomba. A presidente da Comissão Zidan (PT), sabe das dificuldades que tem pela frente, admite que muita coisa precisa evoluir, e disse esperar que até o carnaval de 2024 algumas coisas possam mudar: - O Marco Regulatório já está adiantado até o próximo carnaval e esperamos que em 2024, os blocos não sofram o que vimos na edição deste ano e em 2022. Vamos discutir com as Câmaras Municipais e prefeituras para falarmos sobre a atuação da Frente e do Marco Regulatório. Precisamos promover uma discussão conjunta, incluindo a participação do Corpo de Bombeiros, Secretaria de Cultura e Polícia Militar, visando a harmonizar os interesses das partes envolvidas e colocar o fomento cultural como principal foco da Frente -, comentou. Já a deputada Renata Souza (PSOL), integrante da Frente, falou da urgência no que se refere aos blocos de rua, que precisam ver simplificados toda burocracia existente: - Os blocos de rua, que em sua maioria só desfilam graças a pessoas dedicadas e que fazem a festa, precisam ter assegurado o direito de desfilar. A burocracia por buscar papéis não pode representar um sacrifício. Precisamos de um Marco Regulatório eficaz, abrangente e pragmático. Temos que fortalecer a dimensão econômica, mas não podemos abdicar da força e das vitalidades das expressões culturais existentes no carnaval, por toda a cidade e por todo o estado. Compuseram a mesa Gustavo Moskove, (RioTur); André Vasserstein, (OAB); Gabriel Almeida, (Polícia Civil), Deputada Carla Machado (PT) e Renata Souza (PSOL)




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